23 de maio de 2018

Acordo

e ela vem, lá está
Me abraça gelada e sombria, finca sobre o meu peito as unhas e se instala

É rotineira, é presença constante
Nos fundimos em um só
Eu já não a olho de lado ou de cima

Quando consigo me esquivar e olho em seus olhos eu vejo um poço sem fundo
A imagem do vazio traz um nada que existe 
E que nada em mim, na mente e no peito

Por vezes, quando chega a noite, eu posso ouvi-la falar
Me diz coisas que não gosto de ouvir, mas nunca me diz o que quer ou porque veio
Quero que ela se vá

Nem que seja por um momento, gostaria de novamente saber como é andar só
Ir na esquina, sair do banho...
Já não lembro como é olhar o céu e tentar me perder no movimento das nuvens de mente vazia
Sou fisgada rapidamente pelo incômodo que ela dá

Minha angústia sou eu
Sou ela
Coexistimos nós




11 de julho de 2017

150 dias sem fim

E quando eu disse "eu vou", não disse que estaria indo sozinha, mas que também estaria deixando você ir.

Foram 150 dias sem fim. 150 dias sem largar as mãos, ou os dedos... Os corpos já estavam separados, mas os nossos dedos ainda estavam entrelaçados... ou enroscados. Rígidos.
Eles não transmitiam mais segurança, eles faziam era doer.

Quando se está à beira de um precipício e se sabe que vai cair, você agarra com mais força. E machuca mais.
Esse foi o nosso precipício particular.
Eu e você.
Eu e você presos pelo sentimento de insegurança de como seria se pulássemos sozinhos.

150 dias de dor, de choro, de amargura, sem anestesia...
No 151º dia veio o corte. Nós pulamos. E o vendo que varreu os nossos corpos até que estes tocassem o chão era gélido, mas refrescou - e muito - aquela dor do aperto, do apego, do sufoco, do enrosco.

Nada mais havia sobreposto, nada estava certo.
Éramos só nós.

E os nossos dedos deslizaram e se libertaram quando você disse "vai!".

Obrigada!

23 de abril de 2017

Há um sentimento sem nome

As mãos estão geladas
O coração está ansioso
Os olhos mal conseguem se manter abertos
Há uma voz interna que anseia por gritar o mais alto que puder, ainda que não saiba o que
E há uma mente que deseja estar sozinha, longe de tudo e de todos
Calafrios percorrem todo o corpo

Há uma sensibilidade extrema em cada parte física da minha existência. A cada rajada de vento que atinge o meu corpo, sinto como se estivesse a me jogar de um precipício, sem corda alguma prendendo os meus pés.

Há pensamentos confusos vindos de cada parte abstrata da minha existência. É quase como se cada segundo da minha vida - porque todos eles foram importantes - viessem à tona sem motivo algum, mas com toda a razão de transbordar o meu ser.

Há um dia lindo aqui fora e há um sentimento sem nome que insiste em me inundar... e que me assusta, porque o que não pode ser dito não pode ser compreendido, não pode ser controlado e nem pode ser previsto.


25 de dezembro de 2014

Passadas

Volto a acreditar no que dizem sobre vidas passadas e presentes
A dor de uma vida não pode vir desmotivada
Seria injusto
Mas, o que é justo?
A dor de uma vida deve ser recompensada
Ainda que em outra vida
Ainda que numa vida passada

15 de novembro de 2014

História Mal Resolvida

Abriu os olhos e não sabia onde estava
Foi ao espelho
Contemplou aquele ser estranho, anormal
Quis chorar
Mas se amou
E o dia se foi normal

Fechou os olhos, respirou fundo
Acordou
Foi ao espelho
Se viu alheia
Novamente não se reconhece
Mas se amou

E dia após dia se viu diferente
Não conseguia saber
Qual a sua verdadeira face?

Resolveu ir ao médico
Alguma coisa está errada, pensou
O Diagnóstico: É Síndrome de História Mal Resolvida

E percebeu que dia pós dia via no espelho aquilo que um dia quis ser
Aquilo que poderia ter sido
Aquilo que quase foi
As metades que se formaram de uma história que ficou pela metade

E se amou
O suficiente pra tentar descobrir a metade da história que realmente faria sentido