23 de outubro de 2014

Volúpia de Floberla

No divino impudor da mocidade, 
Nesse êxtase pagão que vence a sorte, 
Num frêmito vibrante de ansiedade, 
Dou-te o meu corpo prometido à morte! 

A sombra entre a mentira e a verdade... 
A nuvem que arrastou o vento norte... 
- Meu corpo! Trago nele um vinho forte: 
Meus beijos de volúpia e de maldade! 

Trago dálias vermelhas no regaço... 
São os dedos do sol quando te abraço, 
Cravados no teu peito como lanças! 

E do meu corpo os leves arabescos 
Vão-te envolvendo em círculos dantescos 
Felinamente, em voluptuosas danças...

11 de outubro de 2014

Dialética

É claro que a vida é boa
E a alegria a única indizível emoção
É claro que te acho linda
Em ti bendigo o amor das coisas simples
É claro que eu te amo
E tenho tudo para ser feliz
Mas acontece que eu sou triste...

6 de outubro de 2014

Consegui

Consegui

eis o que consegui
tudo estava partido e então
juntei tudo em ti
todo minha fortuna
quase nada tudo muitas coisas
numa 
só:
eu quis correr esse risco antes de virar
pó:
juntar tudo em ti:
toda jóia todo pen drive todo cisco
tudo o que ganhei tudo que perdi
meu corpo minha cabeça meu livro meu disco
meu pânico meu tônico
meu endereço
eletrônico
meu número meu nome meu endereço
físico
meu túmulo meu berço
aquela aurora este crepúsculo
o mar o sol a noite a ilha
o meu opúsculo
meu futuro meu passado meu presente
meio aqui
e meio ausente
meu continente meu conteúdo
e além de todo o mundo
também tudo o que é imundo tudo
o medo a esperança
algo que fica
algo que dança
o que sei o que ignoro
o que rio
e o que choro
toda paixão
todo meu ver
todo meu não
tudo estava perdido e aí
juntei tudo
em ti

Antônio Cícero